terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Acervo


Acervo

Tenho me dedicado a ter um acervo que me traga mais a sensação de ter-te aqui sempre. Mais do que já tenho, porque sei que pode ser mais. E que vai ser. Mas, por enquanto coleto tudo o que posso para te mostrar, para me mostrar e percebermos o quanto tudo isso é mágico. E melhor: real.
Vejo filmes que nos lembrem, ouço algumas músicas que mexam ainda mais comigo me mostrando o quanto te amo. Cenas passam em minha mente e meu corpo reage. Minha pele transpira, meu peito transpira e me transformo numa imensidão de águas salgadas correndo para todos os lados. Em todas as partes. Não me afogo. Quero estar viva esperando a sua chegada. E Quando isso acontecer, que nossas águas se unam nesse intenso encontro do rio com o mar dando maior vazão aos nossos sentidos. Aos nossos desejos. A nós.

Jandi Barreto

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Aparição



Lembranças de um dia
Em que tudo se mostrava diferente
Rente aos meus momentos
Uma invenção qualquer.

Mulher sem costumes
Sementes de lamento
Saudades de uma vida
Escondidas verdades

Minhas mãos suadas
Aparam seu calmo rosto
Em olhares que cruzam
Numa fria partida

Me perco em tudo
O que você não está
Seus sonhos, meus sonhos
Meu pulso sanguíneo

Alma livre, peito dentro
Guardado na sua aparição
Molhando em sua boca
Em suaves melodias

Em dias de ...nada
Em noites de...tudo.

Jandi Barreto

terça-feira, 29 de setembro de 2009

córtex




No caminho de qualquer pessoa há um momento em que se faz necessário uma escolha, e essa escolha determinam o salto ou a queda. E é justamente este o movimento que apresentamos nesse espetáculo. O Córtex corresponde à camada mais externa do cérebro. É o local de representações simbólicas, o que ele representa ele processa e integra, e com isso irá responder com uma ação. Representa- Processa – Integra - Age. É a sede do entendimento, da razão. Se não houvesse córtex, não haveria linguagem, percepção, emoção, cognição, memória.
O movimento de um mundo criado à margem, nos subsolos e porões de onde surgem travestis, prostitutas, gays, lésbicas e michês. Arquétipos de um mundo obscuro que, por instinto de sobrevivência se submetem a qualquer tipo de humilhação e ao mesmo tempo criam um universo paralelo, particular de delírios e obsessões. Seus sonhos frustrados e suas identidades perdidas servem de instrumento para uma exacerbação do ser em uma constante busca pelo que ser perdeu.
Córtex surge com o objetivo de criar uma cena teatral direcionada à pesquisa de novas linguagens contribuindo para o surgimento de um novo perfil na cena contemporânea baiana rompendo com as estruturas tradicionais do teatro e fazendo com que a platéia pense, reflita e se sinta numa posição construtiva do espetáculo.
Utilizando ferramentas do teatro contemporâneo como a performance, vídeos, dublagem e uma dramaturgia de fragmentos. Córtex constrói uma cena dinâmica e contundente. A peça trata de temas como amor, os sonhos, identidade e vícios através de recortes de historias vividas ou sonhadas por personagens que representam os arquétipos desse universo: a prostituta, o michê, o travesti etc.
Córtex é um espetáculo intenso e imprevisível: reflexo de um mundo inacabado, um show performático num ambiente decadente é o pretexto para oito atores arrancarem suas máscaras e contarem todos os seus segredos, um panorama ao mesmo tempo amargo e sarcástico, de amores corroídos e fracassados, sonhos desperdiçados e identidades perdidas, investigando o que há de grotesco e sublime em uma busca desesperada por autenticidade.
Ficha Técnica
Concepção + direção: Thiago Romero
Diretor Assistente: Gustavo Nery
Dramaturgia: Thiago Romero+ Gustavo Nery e processo colaborativo com os atores
Atores: Duda Woyda + Gustavo Nery + Gilmário D`Souza + Jandiara Barreto + Karen Souza+ Luiza Bocca+ Márcia Gil-Braz + Marcus Sou`Sant + Victor Gally.
Figurino: Tina Melo
Assistente de figurino: Marcus Sou`Sant
Ambientação Cênica: Thiago Romero
Fotos: Diogo Baleeiro +Tina Melo+ Talitha Andrade
Paisagem Sonora: ZERO
orientação de coreografia: Tassia Gramacho
Iluminação: Marcos Fernandes
Programação visual:Thiago Romero
Produção: Bruno Rodrigues
Assistente de Produção: Jandiara Barreto
Realização: Gangorra Produções + Tempero Produções + Teatro da Queda

sábado, 6 de junho de 2009

The Hours

"Se você não contar a verdade sobre si mesmo, não pode contar a verdade sobre as outras pessoas."
(Virgínia Woolf)

quarta-feira, 27 de maio de 2009



Fico aqui, esperando ansiosa o momento de te ver novamente, meu amor. Entro nesse louco estágio de sofrimento, e quero sim aumentá-lo. Queria tanto ter-te aqui comigo, agora, mas não posso. Me sacrifico, me torturo. Faço isso, porque nem toda dor é ruim. Porque tudo o que mais quero agora é estar com você, e se todo esse aperto é pela sua ausência, sei que, mesmo assim, você está aqui, dentro de mim. Gosto das coisas profundas. Já que comecei, que essa saudade aumente ainda mais. E que quando te encontrar novamente, meu corpo inteiro se transforme nesse estado trepidante e úmido, de todas as maneiras, de todas as formas, em todas as formas. Mas agora fico apenas em suas imagens. Em seu cheiro. Lembrando da temperatura da sua pele, quando sua barriga na minha encosta, num perfeito encaixe das nossas formas tão particulares, despidas, quentes, suaves... Eu e você. A sua língua percorre por toda minha nuca, como nunca antes nenhuma outra percorrera. Suas mãos entre minhas pernas, fazendo leves carinhos em minhas coxas. Minhas unhas arranhando suas costas suadas, tão bem curvadas, num caminho perfeito até um novo ponto de prazer. Nossas pernas enlaçadas se movimentam num atrito lascivo e delicado, onde toda a minha razão se esvaire. Mas agora estou aqui. Meia-noite e meia. Selecionei um aglomerado de músicas românticas e saudosas que embalam as cenas de amor dos seriados que mais me identifico, e as ouço ininterruptamente. A sua foto está aberta em uma das abas do computador. Em uma outra aba, uma cena de amor intenso acontecendo. A música perturba meus ouvidos. O coração aperta mais a cada momento. Uma carta sua e junto a ela nossa foto. Aquela que você me deu quando fizemos quatro meses de namoro, aqui, ao lado do teclado, onde meus olhos possam enxergá-la sempre. E uma vontade desesperadora de que chegue logo amanhã à noite.

Jandi Barreto

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Canção de um amor só.




Sinto através dela o que está aí.
Essa luz que me prende
No olhar, na alma, na calma
Na amplitude da imaginação.

Uma forma libertária de nó
Onde uma parte sua está aqui comigo.
Ainda não sei ao certo como lidar, falar, gritar
Essa canção de um amor só.

Sofrimento ensina,
Sina de não ter um consolo
E tudo se confundir no eco
Não ritmado do coração.

Espera o momento certo.
Guarda e cuida.
Escuta o quanto é bom
Isso que só você sabe.

Jandi Barreto

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Leme


Aqueles detalhes que antes não percebia
Situações inusitadas, contrastadas em minha mente
Coração latente em encontrar algo que talvez
Nem saiba o quê.

Ininterrupta sensação de prazer
Em minhas coxas, minhas costas, meu sexo.
Relação talvez meio sem nexo
Nexo este que desprezo.

Vejo-te e ouço o pulsar da verdade.
Imagem esta, sendo construída
Das lembranças não corroídas pelo tempo.
Dessas possibilidades que existem e invento.

Guia que me leva ao teu gosto
Sem definir qual fruta pertence.
Tenho em mim, sua companhia
Essa bruta e lapidada sensação de moradia.

Partes em seu rumo e me desnorteia
Ao vazio, momentaneamente pertenço
Intenso e rápido lapso de solidão
Retomo e velejo ao momento de ver-te novamente.


Jandi Barreto

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Sinceridade


Insônia dos dias constantes que me preenchem há algum tempo. Não sei ao certo o que isso quer dizer, mas penso que, na tentativa desses momentos de solidão, uma certa aspereza e clareza me circundam na expectativa de florir um pensamento, uma realidade, uma imaginação ou simplesmente tudo isso se perder nessas insanidades naturais que apenas a nossa total neutralidade é capaz de alcançar. Não quero me tornar uma alucinação. Há quem pense que isso realmente possa ser bom, mas quero a lucidez apreendida nesses momentos alucinógenos sem o uso de qualquer substância que possa me levar a ela. Apenas a vontade de... E é nisso que me apego. Essa vontade de... sempre constante, sempre pulsante, sempre recorrente que me impulsiona a... Quero deitar quando a hora se avança demasiadamente e, mesmo sem sono observar esse ritual que é entregue à inconsciência que só o sono proporciona, e me derreto nesses sonhos pouco lembrados, mas que sei que existiram e que eu estava numa deliciosa companhia, entre esses mundos material e imaterial. Fazer o que simplesmente segue. Sem racionalizar, sem idealizar, mas observar o curso da vida. Uma verdade sincera mesmo que dorida. Mas uma verdade sincera. Sempre. Jandi Barreto

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Corpo-colchão


Ânsias de movimentos. Máquina hábil de transformação. Minhas necessidades se deparam diante da busca perfeita nessa imperfeição mutável do tempo. A cada contraste nas semelhanças, um desejo intenso se desdobra em mim. Vejo nessa igualdade o exalar constante de querer. Querer tê-lo, possuí-lo, desposá-lo, deixá-lo trêmulo e suscetível. Desprevenido, desprotegido de quaisquer reações que não as minhas. Pinturas barrocas que bailam da melodia ardente dessa procura e consciência daquilo que lhe é semelhante. Conhecimento de uma parte que lhe parece familiar... Descobrir nisso, suas particularidades mais tendenciosas. Volúpia! Prazer! Gozo conseguido pelo simples caminhar da permissão. As águas salgadas que saem dos poros, misturas às outras águas igualmente salgadas, de distinto poro, de gênero não tão distinto assim. Escorrega nesse corpo-colchão, chão duro em formato propício aos delírios. Lírios de constatação. Músculos, formas, temperaturas. Cabelos molhados em suas bagunças orgiásticas. Cheiro único e inconfundível daqueles que se reconhecem. Cio presente em momentos naturalmente não definidos. Inarráveis sensações. Quereres insaciáveis. Transmutação.

Jandi Barreto.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

06 de julho de 2008


Os passos que, seguros se tornam trazem consigo uma inquietude que persegue as mentes insanas. A loucura, refúgio dos incondicionados busca em seus conflitos, uma tranqüilidade esquecida em... Alguma coisa me mostra onde deixei meus receios e, em meio aos meus fantasmas, espasmos de recordações me afligem a mente, quando acho que mais nada sinto. Estes vêem e ficam. Ficam como se pertencessem ao meu corpo, sabe? Uma parte indispensável da continuidade. Da minha continuidade. Algo que não controlo, como uma intensa excitação que me toma e mostra o quanto ela é indispensável para me sentir viva. O gozo? O gozo às vezes, como erupção surge e me leva aos conhecimentos mais introspectivos da carne. E, às vezes, nada. Nada me leva à desistência, de querer parar aquilo que me deixa pulsante, inclusive em meio aos meus surtos.

Jandi Barreto

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Horas




Pulso inconstante das minhas veias. Resquícios de vontades de vida. Palpitam em minhas carnes, ágeis momentos de angústias e tomam o meu corpo, a minha alma, o meu prazer em ser o não-mórbido.
Conduz no ópio dos meus vícios, aquelas gotas de água pura, que inundam e onde me afogo sem buscar sequer, raros instantes de fôlego.
Tudo o que não me pertence. Espasmos das minhas vertigens, eu, deixando esvair, como uma intensa ventania que leva consigo o que lhe aparece como obstáculo, esta que é a minha essência. Não, não posso!
Houve um tempo onde tudo precisava fazer sentido. Sentimento inquieto e repleto de racionalidade. Covardia, medo, receio da vida.
No gosto amargo dessas coisas que se desfazem à minha frente, encontro a cruel certeza daquilo que posso e daquilo que devo. Levo adiante planos inconseqüentes, mas que me mantém viva, até quando, eu não sei, mas todo ser humano precisa se sentir vivo!
Na permissão de me sentir amada, tendo a chance, mais uma vez, entrego minha alma e todos os meus desejos mais secretos são acalmados e aguçados pela certeza do amor verdadeiro. Meu acalanto.
Horas que passam quando menos se quer, saudades ocultas que insistem em sair, vestígios de erros que não quero punir. Grito retido na palma das mãos. Estouro.
Tremo em lembrar-me das sensações que me deixa quando toca meu corpo, suga meus lábios, arrepia-me as costas. Saborosas e imutáveis manhãs. Rápidos momentos de eternidades. Saudades de uma vida.

Jandi Barreto