segunda-feira, 9 de maio de 2016

Fruta


A cada passo, o abismo da solidão se distancia. 
Coloco-me diante de tudo isso que me aparece.
E tento não decifrar, mas sentir o que significa.
É só me permitir. 

E assim sigo.
Caminho adiante. 
Na direção dos meus desígnios. 
Na condução das minhas fantasias. 

E tudo que me parecia impossível. 
Se dissolve diante das minhas ações.
E vejo que tudo isso nada mais é. 
Do que a intensidade das minhas vontades.

Se elas me deixam, a vida me devora. 
Se elas apenas me observam, vago sem direção.
Mas assim que tomo as rédeas dos meus momentos. 
Coloco-me para a vida e nela bailo nessa valsa incandescente.

Sabor da doce polpa da fruta que escorre. 
Por entre meus lábios, meus dedos, minhas mãos. 
Canção das minhas eternidades. Saudades das minhas inúteis constatações? 
Saudades...
(Jandi Barreto)

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Destino

Tudo o que parecia mistério se desfaz nessa certeza de seguir sem destino, onde meu rumo é você. Os passos me guiam para um lugar além, e assim percebo que esse além é tudo dentro e tudo fora de mim. Meus pés gelados tocam o chão quente de um dia nublado. E as coisas ficam com tons de... De que adiantaria descrever essas sensações? Torna-las concretas, se nada é tão indissolúvel assim? O violino que ouço permanece em minhas mãos e sinto o meu corpo vibrar com o seu canto. Nada mais me espantaria se minha condição não fosse, a de viver nesse autismo de verdades que me preenchem e onde me encontro. Todos somos autistas dos nossos desejos. E vivemos para eles. E cada partícula de decepção é a grande nuvem do conhecimento. E seguimos. E vivemos. E nascemos de novo para gerarmos grandes tempestades. Essa é a nossa transformação. Jandi Barreto

quinta-feira, 5 de julho de 2012

A gente se acostuma com as coisas

A gente se acostuma com as coisas. E sente falta, sofre, chora, levanta a cabeça e volta a sorrir novamente por uma frase bem dita, sussurrada. Aquela em que se ouve todos os dias, porque faz questão de dizer, de lembrar, de reforçar dentro de si e de mim. Aquela que tem mantida acesa por bons tempos o que movimenta a vida, e que tira toda a sensação de fim. A gente se acostuma com as coisas. E quando quebra por um tempo, a dor é a primeira a gritar. A gente estranha e se estranha e interpreta mal o que poderia ser mínimo. E escreve para desabafar. E guarda, e mostra, quer apagar, mudar tudo o que representa. Mas a gente não consegue. E esse é o primeiro sinal de que gosta. A gente só apaga fora e dentro da gente quando perde o sentido. Aí é caminho sem volta. Mas a gente volta e a primeira coisa que quer é ver, sentir, cheirar, amar incondicionalmente. Retomar os costumes, as manias, os risos – ou melhor, gargalhadas e ser feliz mais uma vez. A gente se acostuma com as coisas. Com as coisas boas como você. Não, não é vulgar. É simples, é verdade só isso. A gente às vezes acha que a gente não vai ser por muito tempo. Uma noite, uma ficada, um mês, bobagem, dois meses, aí efetiva. Fica mais difícil. Um ano, um ano e meio... bom, a gente se acostuma com as coisas boas. A gente até pega manias e trejeitos. Vê coisas o tempo inteiro que nos remete a... Na verdade, a gente não se acostuma com as coisas boas da vida. A gente ama tudo aquilo que a vida nos presenteia sem cobrar muita coisa, como você. Jandi Barreto

quinta-feira, 24 de março de 2011

E muda?


Um dia me vi perdida em pensamentos, sem saber ao certo o que levar comigo em minha viagem. Tinha muitas coisas, umas leves, outras nem tanto. Umas enormes e outras miudinhas. Mas eram todas essenciais, pelo menos para mim. Levei. É verdade que pesou bastante, mas mesmo assim considerei cada detalhe porque me faria falta. O tempo foi passando, algumas coisas foram se perdendo no caminho. Seria o desgaste dos dias que faziam aquelas lembranças, que pareciam tão firmes, se desfazerem? Coloquei uma fita adesiva ali, outra acolá. Usei silver tape e até super bonder. Mas nada adiantava. Grande parte do que trouxera comigo estava quase acabado e o mais interessante é que não estava sentindo essa falta toda. Algumas coisas nunca revivi. Apenas trouxe e as deixei entulhadas em algumas gavetas – hoje acho que era só para ocupar espaço mesmo. Eu com essa mania de não querer deixar nada para trás.
Com tudo isso acontecendo, percebi ainda que tinham algumas coisas com pouquíssimas mudanças. Quase perfeitas, quase novas e em locais que, com certeza, danificariam, por exemplo, as outras coisas que estavam mais bem guardadas. Por quê?
A resposta, na verdade está dentro da gente. E cada um tem a sua resposta especial. Que façamos muitas viagens. Físicas e espirituais. E que o que tiver de durar... Com certeza vai durar!
Assim são as lembranças. Assim são nossas verdades. E assim nos fazemos.
Jandi Barreto

sábado, 12 de março de 2011

TEZ


Grandes mudanças anunciadas pelos longos cabelos negros do vento. Em sua tez surgem as possibilidades trazidas para quem quer acreditar no percurso. E ir adiante sem medo do inconstante, em busca da certeza de que chegará... Em algum lugar.
Jandi Barreto

sábado, 22 de maio de 2010

Desconhecido


Por Jandiara Barreto

Meus passos me guiam para um caminho desconhecido. Nada demais em querer seguir por aí, numa trilha de loucas e intensas verdades. Condições que me acompanham, não que sejam as mais ideais, mas sigo exatamente aí para descobrir o que não me aguarda. Conquistar o que ainda não me pertence e viver tudo isso ao longo de...
Minhas mãos, ao lançá-las pra frente alcançam outras mãos conhecidas ou não, mas que repetem esse mesmo movimento na busca de...
Meus olhos, ora abertos, ora fechados preferem essa inconstância de estados querendo perceber a diferença entre ... e...
Minha boca sente o gosto de... e se movimenta num sabor querendo manter tudo o que poderia acabar de acontecer e que não aconteceu.
E eu aqui, nesse caminho desconhecido que me deixa cada vez mais...
Sempre! Jandi Barreto

sábado, 27 de março de 2010

ALÉM-MAR


Assim como já acontecera noutro tempo. Soube desde a primeira vez quando os olhos se cruzaram e se reconheceram. Nada mais poderia tirar aquela certeza que busquei de um tempo outro. E que me preencheria por toda a minha existência. Nada mais faria tanta falta de sentido. Nada mais tiraria essa certeza em mim. Tudo agora é entendido. E vivenciado. E sentido. Jamais esquecido e abandonado. Porque só se abandona quando não é verdadeiro. E quando o é, podem-se passar tempos a fio, mas a lembrança do amor permanece para sempre. O cheiro fica na memória do divino. Deixa de ser meio termo. Ocupa dimensões outras. Etéreas. Matérias. Além-mar.

Jandi Barreto